Tramas Afetivas que nos Mantém Saudáveis

Há anos mantenho o ritual de doações e visitas à Casa Maria Helena Paulina, no Jardim Colombo, em São Paulo (SP). Embora sempre apressada, neste dia, sem planejar, dei-me a tarde de presente e entrei. Marina, diretora da casa, surpresa em me ver, oferece um café, mas logo perde a minha atenção para uma roda de mães hipnotizadas pelo bailado de agulhas e linhas sobre o tecido que teima em ser uma carteira de infinitas possibilidades. Era dia de costura e artesanato, uma das atividades ofertadas às mães dos pacientes acolhidos pela casa durante suas jornadas de tratamento de câncer e outras enfermidades não infecciosas.

A entidade atua desde 1992 com a missão de “contribuir para a saúde, a dignidade e a qualidade de vida de menores carentes em tratamento médico e seus familiares, vindos de outras cidades”. São famílias sem recursos para hospedagem que encontram, ali, um segundo lar. A enfermeira Maria Helena Paulina, que batiza a casa, vivenciou o problema durante o tratamento de câncer, do qual veio a falecer, mas deixou um legado à altura de sua nobreza de espírito e das primas Marina e Regina, com as quais fundou a organização. No dia em que visitei, 34 pessoas compartilhavam o espaço: 17 pacientes e suas mães  ou  acompanhantes. “Vem gente de todo o Brasil e até do exterior”, conta Marina, compondo uma diversidade de sotaques que entoam as histórias nas rodas de artesanato.

O clima é de colaboração e gratidão. As mães retribuem a oportunidade e a sorte, ajudando nas tarefas domésticas e na cozinha, exaltando o propósito de estarem cuidadoras da vida.

Helen, voluntária, comparece regularmente há 8 anos com a sua criatividade para reger a sinfonia de emoções nos corações destas mulheres. O comando é: mãos à obra! A cada encontro surgem bonecos, bolsas, carteiras, pantufas, bijuterias e uma diversidade de peças, reaproveitando o material que estiver disponível. Mesmo quem não gosta de costurar cede aos caprichos das mãos para cuidar de si mesmas, relaxando a mente e a alma. É uma zona de estresse necessário. “No artesanato, elas aliviam o estresse das preocupações, ou o ativam pelos desafios da costura, o que ajuda muito a esquecer!”, comenta Helen.

Helen Figueiredo, mãe de Helen, Marina Marcondes K, Maria Raimunda Santos, Margarida Flauzina. Fotos: Cibele de Barros

De fato, o clima é de concentração e desejo de aprender algo novo. Raimunda, de Mangue Seco (BA), acompanha a filha há 7 anos no tratamento de câncer, que resultou num transplante do fêmur. A cada vinda, ela coloca na bagagem alguma novidade aprendida nas oficinas para ser reproduzida e vendida em sua cidade. Rosely, de Londrina (PR), acompanha o filho, de 17 anos,  com complicações no fígado devido a uma hepatite. Ela diz que não gosta de costurar, mas tinha nas mãos uma peça linda, produto do estresse da costura! Antonia, de Belém (PA), cuida do lindo Yago, 17 anos, recém-transplantado do fígado, após 9 meses de espera heroica. O simpático Yuri, 8 anos, filho de Nazaré, já é o anfitrião da casa, pois a frequenta desde os 4 anos para tratamento de hipospadia.

Na frequência de vindas e longas estadias, surgiram amizades entre as crianças e as mães, criando um playground de alegrias, incertezas e esperança. A saúde também é uma manifestação da qualidade das tramas afetivas que nos envolvem. Que a delicadeza dessas costuras contribua para a cura e o fortalecimento dos laços amorosos desta grande família. Você está convidado a tomar um café nesta casa! Venha conhecê-la e saiba como colaborar.

Peças produzidas nas oficinas.

Casa Maria Helena Paulina

Para saber mais e entrar em contato, visite o site do projeto 

https://www.casamariahelenapaulina.org.br

Artigo escrito originalmente para a revista Costura Perfeita em 2018 e atualizado em 2024.

Edição 105 – Ano 2018

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