Qual a Costura Mais Bela? Dos Tecidos ou das Pessoas?

Integrantes do Empreendimento Retro´s Vest: Cleuza, Fernanda, Inês, Ester Gonçalves, Ester Maria, Leila, Rejane, Marineide, Sebastiana, Luciene, Joseny, Givanil, Marinalva, Suenia, Gildete, Valdeci, Terezinha, Gilnete, Maria de Lourdes e Maria José, Juliana (Advogada), Maria Neucélia (Educadora).

Dia chuvoso e muitos estragos na oficina para onde foram alocadas, provisoriamente, 28 mulheres que compõem a Retro’s Vest. Clima desolador! Já preocupada, corro a procurá-las e, quando abro a porta da sala onde se reuniam, surpresa! Em perfeita sintonia, recebem-me com uma linda cantiga, que preenche o ar e o coração. Nessa energia de acolhimento, otimismo e curiosidade, passamos a manhã, em roda, costurando histórias.

Linhas e agulhas agitaram-se com elas, em 2012, quando participaram do projeto São Paulo: Costurando o Futuro, da Secretaria Municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo do Estado de São Paulo. O projeto tinha dois objetivos: qualificar mão de obra em costura e atrair empresas para a formação de um polo têxtil na zona leste da capital. Os cursos eram realizados nos Centros Educacionais Unificados (CEUs) e tinham duração de dois meses. Pouco, mas o suficiente para escreverem o próximo capítulo.

Em 2015, foram convidadas a ingressar no programa de Incubação Pública e Empreendimentos Econômicos, da Prefeitura de São Paulo. A agenda de formação, que antes fora apenas resumo do ofício de costureira, ganha corpo e alma com a educadora Maria Neucélia. Por formação, entenda-se sensibilização, no sentido amplo do termo: pessoal, interpessoal, social, econômico e político. “Mas não confunda político com partidário”, comenta Neucélia. Afinal, o despertar da cidadania provém do conhecimento democrático e do acesso à informação, e todas eram estimuladas nessa tarefa. Receberam orientação sobre governança, modelaram os valores e os princípios, ajustaram o propósito do empreendimento e criaram um regimento interno.

Agora, estão prontas para a próxima fase: querem formar uma cooperativa.

Tudo muito interessante; porém, a costura estava adormecida havia meses e ainda sem perspectiva de continuidade, quando, no CEU, onde se reuniam 18 horas por semana, descobrem uma sala com várias máquinas estacionadas. Costureira não pode ver máquina parada! Ocuparam a sala e se organizaram. Regularam as máquinas e voltaram a costurar, auxiliando umas às outras e dividindo as tarefas. A peça que faltava no processo, finalmente, encaixa-se! Com o auxílio de uma profissional de moda, fizeram o curso de História da Moda e desenvolveram um produto identitário: camisetas customizadas utilizando retalhos de malha. Um sucesso!

Além das vendas, para garantir o café solidário compartilhado durante os trabalhos – “alimentação é a base de tudo!” –, criaram um bazar de roupas usadas e realizam trocas de roupas entre elas. Para as despesas gerais e extraordinárias, mantêm um fundo, com 10% de todas as receitas.

Hoje reúnem competências em autogestão do empreendimento, desenvolvimento de novos produtos em malharia e tecido plano para uniformes e decoração (almofadas, jogos de mesa e outros) e desejam avançar na aprendizagem de modelagem e costura de vestuário.

O fortalecimento individual e de grupo, resultante da vivência e da superação das dificuldades, está visível na atitude confiante, no olhar e no sonho: serem uma cooperativa de costura modelo, próspera e reconhecida; alcançar novos mercados e… a casa própria! Sim, o grupo busca urgentemente parceiros e apoiadores para reinstalarem a oficina na zona leste. Interessados, procurem por Cleuza ou Tecido Social, nós apoiamos este grupo! 

Projeto Retro’s Vest

Artigo escrito originalmente para a revista Costura Perfeita em 2017 e atualizado em 2024.

Edição 97 – Ano 2017

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