Erradicação da pobreza. O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) número 1 da Organização das Nações Unidas (ONU) diz: “Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares”. Resumindo, lideranças globais se comprometeram a acabar com a pobreza extrema – pessoas vivendo com menos de US$ 1,90 por dia e também reduzir à metade a proporção de homens, mulheres e crianças pobres, até 2030, garantindo, por meio de mecanismos de proteção social, a igualdade de direitos a recursos econômicos, naturais e serviços básicos.
Quando a pauta é a redução de desigualdades, é sempre bom rever compromissos que transbordam a esfera de planos universais, respingando no peito e na consciência de cada um de nós. Sobre esse tema, nosso anfitrião nesta edição é “top”: o sr. Petrus Johannes Maria de Jong, 95 anos, fundador da Associação do Núcleo de Enfrentamento da Pobreza (Anuepo), que há 50 anos dedica sua compaixão e esforços voluntários às pessoas que vivem em situação de pobreza, no município de Cotia e cercanias, em São Paulo. Fundada em 2003 com a missão institucional de “propiciar à população carente recursos materiais mínimos para uma vida com mais dignidade e justiça, com respeito ao ser humano e crença na sua potencialidade transformadora”, atende cerca de 120 famílias – mais de 400 pessoas – com uma agenda de ações que nutrem o corpo, a mente e a alma. Na sede, é realizada a distribuição semanal de alimentos, mas é preciso participar de alguma das oficinas de capacitação (panificação, corte e costura, crochê, artesanato e pintura, informática, karatê, dança) e das palestras mensais, exceto doentes e acamados. Oferecem apoio psicológico a dependentes químicos, orientação às gestantes, círculos de mulheres, Natal solidário e roupas.
Ao entrar no prédio, deparo com elas, recebidas de doações. Cada assistido ganha 7 peças por semana, à sua escolha, e o restante é vendido a preços que variam entre R$ 1 e R$ 15. No bazar mensal, as peças custam R$ 1, com roupas de grifes seminovas. As vendas geram cerca de R$ 3.000/mês, representando uma importante fonte de recursos para a entidade. Viva o potencial dessa economia da moda solidária, gerando valor para todos e cumprindo seu papel social!
Na oficina de costura, outras engrenagens. Chovia muito e poucas alunas conseguiram comparecer naquela tarde, mas a turma contempla 17 mulheres, entre iniciantes e avançadas, orientadas por Margarida, costureira há 40 anos, “por gosto e vício”, diz ela. O curso tem a duração de 2 anos, pois, segundo ela, é preciso tempo e prática para ser uma costureira. Na contramão do trabalho alienante das oficinas, Sione, aluna, comenta que, antes, trabalhava como costureira de meias em uma fábrica, mas não se sentia uma costureira. Não estava inteira no que gosta de fazer e resolveu aprender. Alvina, já aposentada, compartilha a mesma ambição para voltar a trabalhar. Jurene e colegas, também aposentadas, buscam companhia, fazer o que não tiveram chance na juventude e cumplicidade para os preciosos momentos fora de casa. Percebo que o estímulo para estarem lá compartilhando essa longa jornada de aprendizagem cumpre a missão de promover a resiliência e a crença em suas capacidades, determinantes para a superação das vulnerabilidades individuais, externas e internas, além de desenvolver habilidades práticas para melhorar suas vidas.
Adicione a tudo isso a simpatia e a generosidade de Lilian e seus colaboradores, para a equação de combate à pobreza encontrada pelo sr. Petrus ser merecedora dos reconhecimentos públicos recebidos, em uma trajetória heróica registrada em seu livro “Menos Pobreza na Terra, Mais Alegria no Céu”, com parte da receita das vendas revertidas para a associação.
Atualmente, buscam apoio para a finalização das obras de uma nova sede, para acomodar um banco de alimentos e suas atividades, consolidando-se como ponto de referência no combate à pobreza e acolhida da esperança dessa gente tão carente.
Associação do Núcleo de Enfrentamento da Pobreza (Anuepo)
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Artigo escrito originalmente para a revista Costura Perfeita em 2019 e atualizado em 2024.
Edição 108 – Ano 2019
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