A costura é feita pela sucessão de pontos ajustados ao tecido. Se o ajuste não for correto, os pontos desalinham, tensionam ou afrouxam e o resultado, além de não corresponder ao esperado, exigirá carretéis de paciência para que você não desista, desfaça o malfeito e recomece. Na costura, como na vida, cada dia é um desafio de superação e persistência para não sucumbirmos aos desalinhos emocionais, físicos e mentais de pontos mal ajustados de nossas rotinas e relacionamentos.
Muitas vezes, precisamos do olhar e da experiência do mestre para que o ajuste aconteça e o aprendizado cristalize. Desse ponto em diante, somos livres. Na vida prática, a melhor tradução dessa metáfora é a palavra educação, e do princípio ao fim, para sermos pessoas melhores e a costura sair perfeita!
Em diversos formatos e segmentos de moda, vemos a oferta de cursos particulares, projetos sociais patrocinados e conveniados ao poder público, institutos privados. Na minha trajetória de pesquisa, percebi que, além do conteúdo técnico, o que os diferencia profundamente são o propósito e a competência social.
Primeira parada: Cáritas Diocesana de Guarulhos, onde estive para rever as mentoras do curso Costura e Arte, mantido pelo convênio com o Fundo Municipal de Assistência Social, da Prefeitura de Guarulhos e complementado por recursos da própria entidade. O programa objetiva a profissionalização para a geração de renda, porém os resultados transcendem esse objetivo. Em 2016, foram beneficiadas 104 pessoas, das quais 67 concluíram a formação. A taxa de abandono é baixíssima e tem fila de espera.
O curso tem a duração de 12 meses, divididos em oito horas semanais e organizado em três grupos: artesanato, modelagem e moda lingerie, nos quais se aprende sobre tecidos, criação, técnicas de modelagem, corte e costura e manuseio de máquinas. Em 2016, os grupos confeccionaram um armário completo. A modelagem produziu: camisas, calças, saias, blusas e vestidos, além de colchas, lençóis, jogos de cozinha e outros. O grupo de lingerie desvendou os segredos da confecção de sutiãs simples, nadador, com bojo em renda e elastano, calcinhas e cuecas, camisolas e pijamas em malha e algodão. Foram 12 meses de acolhimento e ensaios psicológicos e integrativos para que os ajustes dos pontos pessoais produzissem costureiras perfeitas, com muitas rodas de conversa, palestras e dinâmicas para o fortalecimento de vínculos interpessoais e familiares. Relacionamentos, autoconhecimento, autoestima e valorização da mulher são tratados com delicadeza e competência nas terapias de grupo.
No processo de resgate de identidade e valores pessoais, confeccionaram uma linda colcha de retalhos. Cada pedacinho, o resumo de uma história de vida. Com a generosidade e o talento social das mentoras, as mulheres encontraram uma profissão adornada com dignidade, autoconfiança e abrigo de alma.
A convivência nesse ambiente de cuidados inspirou o respeito às diferenças e às fragilidades individuais. “Ninguém ficou isolado nem indiferente; não houve intrigas nem preconceitos”, comentam Terezinha Gonçalves e Solange Rodrigues, formandas do curso de corte e costura. A convivência criou laços de amizade para a vida e, principalmente, mulheres poderosas, confiantes e prontas para conquistar os sonhos e costurar com perfeição. Se estiver à procura de uma parceira, fale com elas!
Projeto Cáritas Diocesana de Guarulhos
Para saber mais e entrar em contato, visite o site do projeto https://diocesedeguarulhos.org.br/caritasdiocesana
Artigo escrito originalmente para a revista Costura Perfeita em 2017 e atualizado em 2024.
Edição 95 – Ano 2017
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