As nossas convidadas desta edição são as meninas da Cooperativa de Costura Osasco.
O grupo de costura que vamos conhecer é um caso de persistência, superação e referência no empreendedorismo solidário para começarmos nosso passeio pela costura social com inspiração e motivação para aprender com quem tem muito para contar.
Como tudo aconteceu (ou quase tudo)
Eram 200 corações. Cada um pulsando na cadência de um sonho e na esperança de uma vida melhor.
O entrelaçamento das vidas das nove costureiras que hoje formam a Cooperativa de Costura de Osasco teve início em 2006, nas oficinas de costura do projeto Oficina Escola, da Secretaria do Trabalho da Prefeitura de Osasco, em parceria com a Associação Eremim, Ação Social de Promoção da Cidadania e Desenvolvimento Humano. O projeto é destinado a mulheres de baixa renda, beneficiárias do Bolsa Família. Entre as 200 aspirantes à profissão de costureira, estavam Marize, Elizete, Ana Paula, Diva, Nair, Jarize, Maria Carla, Maria José e Durvalina. Elas relembram as emoções vividas na oficina e, entre memórias e motivos, em coro, declaram: “É que a gente gosta de costurar!”.
Nos dois anos de formação, produziram uniformes escolares para a rede municipal de Osasco e aprenderam sobre cooperativismo, empreendedorismo solidário, comércio justo e as bases de conhecimentos que nortearam suas escolhas e suas vidas. Em 2006, concluído o primeiro ano de formação, optaram pelo cooperativismo. Tinham a convicção de que juntas seriam mais fortes e aumentariam as chances de atingir seus objetivos. “A economia solidária em si, por seus valores, nos motiva. O formato de participação associativa promove o intercâmbio de saberes, em que cada um faz o que sabe melhor e ensina o outro para crescermos juntos”, comenta Diva.
O chamado foi forte. Em 2007, com o apoio da Incubadora Pública de Osasco, 33 mulheres constituíram a Cooperativa de Costura Osasco. Estabeleceram-se em um galpão cedido temporariamente pela prefeitura de Osasco e tudo passou a ser compartilhado – trabalho, comida, crises, incertezas e esperança. “Tinha dias que a gente recebia R$ 50, tinha dias que a gente não recebia nada”, comenta Maria Carla. Com as dificuldades iniciais, sem recursos para investir, sem experiência, com poucos equipamentos e poucos clientes, muitas sucumbiram às fragilidades financeiras e familiares. Ficaram apenas nove mulheres que acreditaram.
Economizaram para alugar um imóvel, compraram as máquinas e aprenderam a gerenciar a produção e o negócio. “No começo, na maioria dos meses não tínhamos nada para receber, mas tínhamos a esperança de que iríamos conseguir”, conta Marize. Desde o início, seguem os princípios da economia solidária e do comércio justo e ético, o que nem sempre é compreendido no mercado. Numa ocasião, conta Ana Paula, o cliente chegou a perguntar por que elas precisavam dormir. Propostas com preços e prazos indecentes aqui são recusadas, mas o grupo tem metas e busca realizá-las. Afinal, “economia solidária não é bazar. Comércio justo não significa improdutividade, baixa qualidade nem caridade, e todos os dias um leão bate à nossa porta”, desabafa Ana Paula. Mas, convenhamos, respeito e sucesso não se conquistam sem dignidade.
O modelo do empreendimento motiva a atualização permanente. Todas buscaram aprimorar sua formação, concluindo o ensino médio. Maria Carla cursa a faculdade de administração, Marize é modelista profissional e Elizete cursa ciências contábeis.
Projetos realizados e reconhecimento
Com essa disposição, produziram figurinos para o Teatro Mágico, 10 mil camisetas da campanha Todas as Cores, Todos os Amores e, entre outros projetos, o desafio Tecido Social, para desenvolver uma peça para a coleção da marca Antes de Paris. “Sobra vontade de assumir desafios, de apurar o trabalho e de crescer”, relata Gisele Minasse, estilista e dona da marca.
Em 2011, receberam o reconhecimento do governo federal como referência em empreendedorismo solidário. Marize representou a equipe no lançamento do Plano de Superação da Extrema Pobreza – Brasil sem Miséria. E não parou aí. Foram selecionadas para concorrer ao Prêmio BNDES de Boas Práticas em Economia Solidária 2015.
Os planos para o futuro são muitos. Elas começaram a confeccionar uma linha de produtos para a marca CCO e querem abrir uma loja física nas próprias instalações da oficina. Para compartilhar o que aprenderam, querem criar um espaço de aprendizagem na oficina para quem quiser costurar e aprender sobre economia solidária.
Produzir o tecido por meio do entrelaçamento de vidas é preciso, e vestir a roupa costurada com esse tecido não tem preço. Conhecendo essa história de prosperidade e determinação, penso por onde pulsarão os outros 191 corações…
Projeto Cooperativa de Costura Osasco
Artigo escrito originalmente para a revista Costura Perfeita em 2015 e atualizado em 2024.
Edição 86 – Ano 2015
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