“A primeira transformação da Costurando Sonhos foi em mim”
Sueli do Socorro
Poderia ser apenas mais um dia na rotina de atendimentos do Serviço de Assistência Social às Famílias (SASF) Paraisópolis, em São Paulo, mas as marcas da agressão física naquela mulher – atendida por Sueli – e seu bebê de colo fizeram do sentimento de revolta uma urgência: buscar alternativas de proteção e combate à violência doméstica.
Com esse objetivo, ela e Nilde elaboraram uma pesquisa de perfil das mulheres agredidas, constatando como padrão: baixa escolaridade, dependência marital e beneficiárias do Bolsa-Família. Paraisópolis é a segunda maior comunidade de São Paulo, 5ª do Brasil, com mais de 100 mil pessoas, sendo 12% analfabetos ou semianalfabetos; 31% jovens entre 15 e 29 anos; 41,40% da população preta ou parda; 51,13% da população feminina, universo que registrou em média 102,3 ocorrências de violência contra a mulher, para cada dez mil mulheres, entre 20 e 59 anos, em 2018 (dados: Mapa da Desigualdade 2019 – Rede Nossa São Paulo).
A complexidade do retrato socioeconômico e geográfico da comunidade desperta interesses difusos, entre desenvolvimento e opressão, vitimando e adoecendo as pessoas, em especial as mulheres. O antídoto contra a doença precisaria agir rapidamente e não há melhor remédio para o abandono de si do que a qualificação e o trabalho digno.
A costura já era uma vocação testada por outros projetos, com potencial de aprendizagem de curto prazo, melhoria da autoestima e geração de renda imediata, mas o ambicioso plano de capacitação técnica estava sem teto e sem credencial até conquistarem, em 2018, uma importante parceria com o Senai para a estruturação de uma oficina-escola modelo, em corte e costura, na comunidade.
Por meio do apoio financeiro da Agência do Bem, contrataram o primeiro professor para a formação inaugural de 40 mulheres e, com outros apoiadores, até o final de 2019 já formaram 104 alunos(as).
Chaves viradas, portas se abrem e a realidade do mercado se mostra. A capacitação é instrumentalizada para o trabalho, mas não garante a empregabilidade. Sueli e Nilde, fundadoras da Costurando Sonhos Brasil, junto à Associação das Mulheres do Paraisópolis, com apoio da União de Moradores do Paraisópolis (articulação e cessão do espaço da oficina), do programa de voluntariado do Instituto C&A (gestão e comunicação) e Instituto Dudalina (capacitação e doação de retalhos de tecidos), reúnem talentos, recursos e conhecimento técnico para desenharem o empreendimento e a produção exitosa de lançamento de ecobags de retalhos de tecidos da marca.
A Costurando Sonhos Brasil é parte da estratégia de inclusão e geração de renda de mulheres formadas pela oficina-escola e aspirante a conquistar um lugar ao sol na passarela de negócios sociais e marcas orientadas por práticas social e ambientalmente responsáveis. Em 2019, a aproximação de novos parceiros alinhados ao propósito da marca, incluindo a Tecido Social e a participação na semana Fashion Revolution, foram a consagração dessa orientação, ampliando a visibilidade do projeto e oportunidades para a marca, fazendo emergir a coragem e a criatividade para a 1ª coleção de vestuário, desenhada por Stephany, que já desfilou no Palácio Tangará (chique!!) e no Projeto Estufa/SPFW 2019! E senta que logo chega a 2ª coleção! Essas mulheres sonhadoras não têm botão de stop, só o go!
Em 2020, a Costurando Sonhos Brasil renovou os votos de parceria com: Senai, Instituto C&A, Tecido Social, FR e está aberta a quem mais chegar.
Costurando Sonhos Brasil
Para saber mais e entrar em contato, visite o site do projeto
https://www.costurandosonhosbrasil.com.br
Artigo escrito originalmente para a revista Costura Perfeita em 2020 e atualizado em 2024.
Edição 114 – Ano 2020
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