Dizem que felicidade é ter o que fazer. Se a vida nos agracia com saúde e amizades sinceras, esse fazer adquire uma estética própria, sem predicados, que supera a coisa em si e acerta no coração.
Passei um dia na morada de trabalho de mulheres com energia e brilho nos olhos que não vejo em jovens com metade de suas trajetórias de vida. A equipe de costureiras da Bordados, Ponto e Fio é formada por seis amigas, mas Jane e Ana não puderam comparecer, motivo pelo qual não estão na foto.
Amizade, respeito e superação. Elos fortes que sustentam uma história que dizem ter começado em 2013, quando algumas delas se encontraram no curso de costura da professora Virgínia, promovido pelo Serviço de Atendimento à Família, da Prefeitura de São Paulo, que realiza ações socioeducativas de suporte a famílias e pessoas em situação de risco e vulnerabilidade, idosos e pessoas com necessidades especiais. Nas oficinas, superando fragilidades humanas e financeiras, as dedicadas alunas estabeleceram um vínculo inspirador de clássicos do cinema e seguiram a mestra no caminho contínuo da aprendizagem de costura.
Em 2015, Virgínia migrou para a Associação Paulista de Apoio a Famílias (Apaf), na Bela Vista, em São Paulo, onde orienta mais de 40 alunas, com fila de espera. Com ela seguiram Jane, dona Luzia e dona Marlene. Bem, conhecendo a professora Virgínia, é simples entender. Além de excelente profissional, ela é tecelã de fibras de amor e confiança. Não pode haver tecido melhor!
O curso é estruturado em níveis de aprendizagem. Na conclusão do básico, muitos grupos se diluem, como tem que ser, para que os destinos se realizem. Mas permanecer também é uma escolha e aprender não tem fim. Foi assim que se uniram ao trio Ana e Fatima.
Determinadas a alinhavar suas vidas com Virgínia, criaram o grupo empreendedor Bordados, Ponto e Fio, oficialmente batizado e estruturado no início de 2016. É um grupo jovem de mulheres maduras e aposentadas de profissões como cozinheira, enfermeira, hotelaria e serviços gerais, que decidiram empreender uma nova carreira após os 50. Dona Marlene aprendeu a costurar e bordar aos 70. Os sorrisos entregam a felicidade pela oportunidade de viver um novo começo e conjugar sonhos no tempo presente.
Na pequena e acolhedora oficina, no centro de São Paulo, atendem projetos exclusivos e slow fashion na confecção de bolsas, ecobags e acessórios, decoração e roupas de casa. Mas o bordado manual é a alma do negócio. Virgínia assessora também no desenvolvimento de produtos e modelagem.
Sou muito agradecida por esta tarde. Reaprendi, porque a gente esquece que estar vivo é não desistir de aprender que o sonho é o que a gente faz hoje. Amanhã será outro dia, outras costuras, outros tecidos. Sonho é moda. Vida é estilo. E felicidade com o que se faz é para o mundo todo copiar.
Projeto Bordados, Ponto e Fio
Artigo escrito originalmente para a revista Costura Perfeita em 2016 e atualizado em 2024.
Edição 93 – Ano 2016
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