A história do Ateliê Acaia é um preciso resgate da função social e transformadora da arte. Em 1997, a artista plástica e escultora Elisa Bracher abriu as portas de seu ateliê e a do coração para receber olhares e mãos curiosas de um grupo de jovens da comunidade vizinha, e sem que eles soubessem, iniciou uma trajetória de aprendizagem e de realização humana que transcendia a despretensiosa intenção de compartilhar tempo e recursos para ensinar marcenaria. “Tudo começou muito simples e solto”, conta Olga Maria Aralhe, diretora do Instituto. Exceto pela única condição de participação: estar e fazer, por querer!

Aos poucos, a vida, os talentos e os dramas de dezenas de jovens das favelas da Linha, do Nove e do Cingapura Madeirite ocupavam os espaços do ateliê, por sorte ou destino, onde os seus pedidos de socorro foram ouvidos e apontaram a direção. “Havia crianças de 15 anos que não sabiam ler”, diz Olga. Arte sem repertório seria um corpo sem alma. Educação, arte e afeto mesclaram suas cores e, em 2001, o Instituto Acaia ganha musculatura jurídica e financeira para viabilizar: Ateliê Escola (ensinos infantil e fundamental I); Ateliê Acaia (oficinas: linguagem oral e escrita, artes, música, letramento digital, marcenaria, biblioteca, vídeo, oficina do sentimento, capoeira, dança, costura e bordado, culinária, xilogravura e tipografia); Acaia Sagarana (fortalecer as bases educacionais e as competências de adolescentes egressos de escolas públicas e ingresso em cursos superiores). O Instituto também mantém o núcleo Acaia Pantanal (Programas de desenvolvimento humano e social e de conservação do bioma Pantanal).

No entanto, chegar a esse modelo foi resumo de muita escuta, costuras e bordados! As questões sociais e emocionais transpiradas nas oficinas pelos jovens não tinham eco nas famílias, dificultando as assistências social e psicológica plenas e o engajamento das mães no processo de aprendizagem. Olga, que se diz inapta para a costura, num esforço de aproximação com as mães, logo no início lançou o convite para encontros de costura e bordado. Depois de quase um ano bordando sozinha, aprendeu alguns pontos, até que surgiu uma candidata, trazida pelo sobrinho. Voilà! Superado o medo, a novidade se espalhou e formaram-se grupos de adolescentes, mães, tias e avós para costurar e bordar livremente, com a orientação de dois profissionais e uma oficina completa e impecável. As oficinas acontecem à tarde e no período noturno, quando elas podem trazer os filhos, que recebem atenção de educadores e já começam a se integrar no ambiente. Ao final, uma deliciosa refeição celebra o encontro. Tecidos e aviamentos, doados por parceiros, são fornecidos para que eles realizem os projetos pessoais. Para quem deseja especializar-se, há dois anos o Instituto abriga a Escola de Moda, com 10 vagas por bimestre.
Entusiasmo e atenção dão o ritmo das conversas das 50 costureiras e bordadeiras que, espontaneamente, formaram a mais poderosa rede de cuidado e proteção dessas famílias. Juntas, costuram problemas, sonhos e vivências de gerações. A menina que seguiu a mãe aprendeu a fazer seu estojo e, anos depois, sua roupa.

Desses encontros, formou-se o grupo “Artesãs da Linha Nove”, com 34 bordadeiras criativas, que viram os filhos, os netos e elas próprias transformados. Hoje, na casinha amarela, bordam e costuram diversos produtos, incluindo vestuário, e adoram novos projetos! Mas isso é outra história, a qual merece uma coluna exclusiva!
Instituto Acaia
Para saber mais e entrar em contato, visite o site do projeto
Artigo escrito originalmente para a revista Costura Perfeita em 2017 e atualizado em 2024.
Edição 100 – Ano 2017
Clique aqui para acessar a publicação.