“Abram a roda que chegou mais uma mulher!” Era eu, e assim começa a nossa história. A visita era para conhecer o projeto de costura da Casa da Mulher, em Campo Limpo, mas senti um universo humano e feminino tão intenso e profundo que mudou a minha vida.
Celina, coordenadora do Centro de Defesa e de Convivência da Mulher (CDCM), conduz os trabalhos da terapia em grupo com maestria e ritmo musical, mantendo a tensão positiva da energia de cura e acolhimento, em contraste com revelações de violência doméstica que transbordam dos olhares e na voz de quem se atreveu a ser mulher. Apesar das estatísticas apontarem esse tipo de agressão para mulheres pobres, de baixa escolaridade e negras/pardas, penso como ainda desconhecemos o tema e quantas formas de violência nos atingem, independentemente dos indicadores socioeconômicos. Tecnicamente, destacam-se cinco tipos: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. No radar do Instituto Maria da Penha, a cada 2 segundos no Brasil uma mulher é vítima de violência física ou verbal. Enquanto escrevo, 38.112 sofreram algum tipo de agressão apenas neste dia. A teia de fibras que forma a superfície dessa realidade é circular e se repete a cada novo ciclo de agressões, mapeado em três fases: tensão e perda do diálogo; agressões e violência; arrependimento e promessas. Vítimas dessa engrenagem de dominação, mulheres são mantidas em cativeiros domésticos e perdem a sua maior força: acreditar em si mesmas e que podem mudar esta realidade.
A União Popular de Mulheres de Campo Limpo e Adjacências, “Casa da Mulher”, fundada e presidida por Neide Abati, junto a uma equipe polivalente de profissionais e colaboradores da comunidade, desde 1987 se dedica a criar e a fortalecer um círculo inverso e virtuoso de confiança, solidariedade e emancipação feminina e comunitária, por meio de um complexo ecossistema de serviços sociais e econômicos, projetos e atividades culturais. Entre os serviços sociais mantém três Núcleos, o de Convivência para Idosos, o Centro de Defesa da Mulher e a Casa de Acolhimento Provisório, em que é realizada uma agenda de atividades lúdicas, culturais e pedagógicas que dá retaguarda para o trabalho de psicólogas, assistentes sociais e advogadas. Os programas de educação e saúde são a prioridade. No eixo de capacitação e inclusão, realizam cursos de confeitaria e empreendedorismo, corte e costura, e geração de renda. O grupo de bordadeiras Panos e Linhas e a horta comunitária estimulam o engajamento cultural e ambiental. Completando a lógica de inclusão e o desenvolvimento local, em 2009 criaram o Banco Comunitário União Sampaio, um centro de microcrédito produtivo e de consumo que subsidia empreendimentos solidários e fomenta o comércio local, o trabalho e a geração de renda.

Em um ambiente tão feminino, entre o drama da vida, sorrisos que abraçam e cheiro de pão quente, não pode faltar costura! A Escola de Moda, uma parceria com o Fundo Social de Solidariedade do Estado de SP, coordenado por Edilene Pimentel, forma até 40 costureiras por ciclo, elegíveis a obterem empréstimo do banco para montar o negócio delas ou a trabalharem na oficina nos intervalos dos cursos. Nessa oficina, para algumas mulheres, tecidos e linhas têm a missão social de unir os retalhos do amor próprio, da autoconfiança e da coragem, rasgados pela agressão doméstica, aprendendo a costurar novas narrativas para a sua vida, em seu próprio estilo. O curso dinamiza a socialização, a criatividade, a resiliência e a autonomia, ampliando a satisfação de realizar algo, o verdadeiro glamour da costura social, para que todas possam desfilar radiantes na passarela da paz.
Nesse contexto, o sonho de Neide e, suspeito, de muitas colaboradoras, não poderia ser outro: dormir tranquila, para despertar com a energia e a determinação de continuar cuidando das pessoas! Mas, para garantir esse sono, elas precisam de ajuda. Visite a casa ou entre em contato e saiba como investir a sua generosidade nesse projeto!
Projeto de Costura da Casa da Mulher
Para saber mais e entrar em contato, visite o site do projeto
https://www.uniaopopmulheres.org.br
Artigo escrito originalmente para a revista Costura Perfeita em 2018 e atualizado em 2024.
Edição 103 – Ano 2018
Clique aqui para acessar a publicação.