Refugiado não é um estado de ser, mas de estar. O Brasil tem conjugado bem o verbo, abrindo fronteiras para recebê-los. Em 2017, tínhamos cerca de 10 mil refugiados reconhecidos e mais de 33 mil solicitantes. Entender o novo mapa político-social global é uma urgência humanitária e exige coragem, respeito, compaixão e vontade política. Traduzir este cenário para o universo da costura é quase uma salvação, cujo retrocesso é a âncora que sustenta o seguir adiante.
E sobre recomeços o Instituto Base Gênesis de Desenvolvimento Humano entende. Fundado em junho de 2015, o Gênesis tem o propósito de promover oportunidades de desenvolvimento humano a pessoas que estão sem abrigo e projetos transculturais.
O projeto é mantido pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, por meio do qual mais de 1.700 pessoas são beneficiadas. A população de refugiados atendidos é proveniente da Síria, da Palestina, do Marrocos, do Haiti, da Colômbia, da Nigéria, de Moçambique e da República Democrática do Congo. Seja qual for a origem, todos se encontram no marco zero da vida, tal qual a sede, na Praça da Sé, em São Paulo, por onde transitam uma intensa pluralidade de histórias e personagens. Lá, mais de 400 voluntários reescrevem histórias de 250 famílias.

Os próprios estrangeiros podem ser voluntários. Nessa trama de intercâmbios, o público-alvo se confunde entre voluntários e beneficiários. Mas, seja qual for o seu papel, são “pessoas que se dispõem a ser benção na vida do outro”, diz Wallyson Santos, um dos fundadores.
As atividades, definidas pelos voluntários, incluem atendimentos de saúde e psicológico, distribuição de alimentos, cursos de idiomas, culinária, reforço escolar, visitas domiciliares, empreendedorismo e costura!
A costura entrou nessa história fio a fio, começando com oficinas de tricô, bordado e apliques, sob a orientação de Virgínia Teixeira, também mentora do grupo de costura Bordados, Ponto e Fio (já apresentado na edição 93 da Costura Perfeita). Em poucos meses, o bordado e a costura manual ajudaram na superação do isolamento, na insegurança e nas barreiras do idioma, e a costura mostrou-se uma oportunidade. “A rapidez na aprendizagem e a iniciativa dessas mulheres são muito diferentes, são mais dinâmicas e curiosas”, diz Virgínia. Segunda ela, além do perfil empreendedor, elas trazem a cultura do reaproveitamento. Blusas de lã que viram mantas, jaquetas e roupas usadas são customizadas, retalhos e acessórios brilhantes e coloridos decoram lindas bolsas; algumas alunas já estão produzindo em casa, para vender nos bazares promovidos pelo Gênesis e para a comunidade árabe. Na verdade, temos muito a aprender sobre estratégia de sobrevivência e empreendedorismo com elas”, ressalta Virgínia.

Seguindo estes fios, em 2018, o grupo atual, composto de 10 mulheres, recebeu doações de máquinas de costura e de tecidos e formou-se uma pequena oficina na sede do Instituto para, entre outras criações, aprender a costurar as próprias roupas, estampando nelas a poética de sua expressão cultural, e vender para outras mulheres refugiadas e da comunidade árabe.
No momento adequado, considera-se um formato de cooperativa de produção, mas precisaremos de muita cooperação para fazer dessa modelagem uma peça bem-acabada. A Tecido Social, que apoia este projeto, convida você para participar como puder. Toda ajuda será uma benção!
Instituto Base Gênesis de Desenvolvimento Humano
Para saber mais e entrar em contato, visite o site do projeto
https://institutobasegenesis.org.br/
Artigo escrito originalmente para a revista Costura Perfeita em 2018 e atualizado em 2024.
Edição 102 – Ano 2018
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