“Nenhuma a menos!” Com essa determinação de solidariedade, consolidou-se o projeto Costurando a Vida.
Lúcia de Fátima do Nascimento, a madrinha do projeto, foi apresentada à costura no berço familiar. Aos 13 anos, por vocação e necessidade, trocou as brincadeiras e a vizinhança de Carapicuíba pelas oficinas do Bom Retiro. Já adulta e experiente, voltou para o quintal de sua infância e abriu a própria oficina de conserto de roupas, que seguiu próspera até bater à sua porta o convite para ajudar a salvar vidas: fechar a oficina e recomeçar do zero, como colaboradora de um trabalho de assistência social da ONG Associação Cristã Corrente de Luz, na comunidade carente de Vila Esperança, em Santana de Parnaíba (SP).
Sua missão: costurar vidas despedaçadas de mulheres que viviam em lixões e nas ruas, vítimas de famílias desestruturadas, violência, depressão, drogas e álcool. A inspiração: a crença no poder transformador da costura. Ivie Nascimento Silva Dias, filha de Lúcia, chegou um pouco depois. Trabalhou para marcas famosas e vivenciou conflitos de valores até optar pelo empreendedorismo social.
O projeto começou com visitas e conversas com a comunidade até desenharem o mapa de prioridades sociais que indicasse o caminho a seguir. Foi quando o carisma de Lúcia e o chamado da costura entraram para a história de 12 mulheres castigadas pela pobreza. A associação acolheu o projeto, estruturou a oficina-escola e uma pequena confecção, onde as aprendizes poderiam trabalhar.
O combinado eram duas horas diárias de aula que, mais adiante, passaram para seis horas. O processo foi muito desafiador. “A mente e as condições físicas das mulheres não permitiam que focassem na aprendizagem. Algumas não tomavam banho e vinham descalças”, conta Lúcia.
Para penetrar nesse universo, criaram um espaço de diálogo e uma rotina de leituras e reflexões sobre questões humanas e espirituais que dessem suporte ao grupo, e que prevalecem até hoje. Foi com a dedicação amorosa e muitos abraços depois que pessoas como Teresa, egressa da casa de custódia da penitenciária de Franco da Rocha; Inês, ex-alcoólatra; e Elizabeth, vítima de depressão crônica, resgataram sua dignidade e confiança para seguir. “Nenhuma a menos. Quando não vinham, eu ia atrás delas. Me colocava nas condições delas. Me envolvia com suas questões”, relata Lúcia. Hoje, todas as mulheres que passaram pela oficina estão colocadas profissionalmente.
O período de incubação do projeto na ONG durou quatro anos. Atualmente, o grupo atua em oficina própria, em Carapicuíba, mas ainda conta com o apoio da associação. Atende projetos variados e realizará o desafio Tecido Social, confeccionando as camisetas masculinas de uma nova marca, a Demiam, lançada em julho.
Entre seus planos para o futuro, estão o de costurar vidas melhores, capacitando e criando oportunidades para mulheres em situação de risco social, e lançar a marca ecológica e sustentável de roupas infantis Tilucy, já disponível na própria oficina.
Projeto Costurando a Vida
Artigo escrito originalmente para a revista Costura Perfeita em 2015 e atualizado em 2024.
Edição 87 – Ano 2015
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